quinta-feira, 19 de abril de 2007

Aedes X Poluição


Quando um feriado está próximo, não há quem não fique animado. Uma ótima oportunidade de viajar e deixar todas as responsabilidades para trás. Esquecer do trabalho, da faculdade e de São Paulo. Imaginar como seria morar longe do barulho, dos escapamentos, dos prédios e das avenidas.
No último feriado viajei para Ubatuba. Já fazia um bom tempo que eu não visitava a cidade. Estava muito feliz que iria poder esquecer Teoria da Mídia II, Planejamento em Comunicação, Sistemas Internacionais... mesmo que por apenas três dias. Quando já estava chegando, minha mãe me ligou e disse que estava tendo um surto de dengue em Ubatuba. A primeira coisa que fiz ao chegar lá foi conversar com o segurança da rua. Disse que mais de 7000 pessoas contraíram a doença. Mentira ou não, foi o suficiente para me assustar um pouco: chutei pneus, vasos e tudo mais que continha água parada. Gastei um bom dinheiro com repelente e bati o recorde mundial em matar mosquitos. Mesmo assim, achei que estava com dengue ao chegar em São Paulo.
Na mesma noite que voltei para Sampa, estava tossindo, espirrando e muito cansado. Não tive dúvida: dengue. Prestei atenção nos sintomas e me informei sobre a doença. Após concluir que não tinha sido mordido pelo Aedes Aegipty, fiquei pensando na razão de estar doente. A hipótese mais aceitável que eu conseguir pensar foi poluição. Porque não foi a primeira vez que isso acontece comigo. Inúmeras vezes, ao voltar do litoral, fiquei “resfriado” e nunca soube o motivo. Mas agora descobri: São Paulo. Impressionantes os diversos efeitos causados por essa linda metrópole e seus gases maravilhosos! O problema é se essa casual doença desenvolver-se em uma espécie de alergia.
Quase todos os dias assisto o telejornal Bom Dia São Paulo, e sempre mostram uma imagem panorâmica da cidade, como uma tentativa frustrada de “engrandecer” a paisagem urbana. Mas em todas essas imagens aparece uma faixa escura no horizonte, um pouco abaixo da linha do nascer-do-sol. E na seqüência, a âncora fala: “São seis e quarenta e cinco da manhã, e esta é uma bela imagem aérea da cidade de São Paulo”. Nada como um pouco de comédia matinal para começar bem o dia. Isso me levou a pensar sobre Ubatuba e seus mosquitos mortais: morar em Sampa e se autodegenerar gradativamente, ou em Ubatuba, correndo o risco de ser a vítima número 7001?
Há uma semana atrás, já tinha tomado minha decisão: prefiro o foco da dengue. Cheguei a infalível conclusão de que seria plenamente capaz de levar uma vida tranqüila e saudável na praia. Apesar de ter muitas características similares a metrópole, existem mais de 70 praias lá. Com certeza encontraria uma isolada e imaculada. Bastava só dinheiro, coragem e repelente.
Mas foi no fatídico dia 14 de abril de 2007 que uma única coisa mudou minha opinião e meus conceitos sobre minha cidade natal: Bad Religion. Após presenciar o show, vi que não conseguiria abandonar a paulicéia... a abstinência seria insuportável demais. São Paulo é palco de muitos shows bons. Hospeda bandas que muitas vezes só se apresentam aqui e em nenhum outro lugar do país. Sem mencionar que eu teria que abandonar minhas bandas. Esse foi o xeque-mate: a cidade me pegara pela jugular. Não poderia abandoná-la mais.
De volta à Sampa. A terra com mais capotas do que asfalto, mais doentes do que médicos, mais pressa do que tempo livre. Cidade onde até as idosas mais dóceis e gentis encarnam o capeta para conseguir um bom assento no ônibus. Mas mesmo assim, estou conformado: só me mudo quando o Bad Religion tocar em Delfinópolis ou em São João da Boa Vista ou na Serra da Canastra.

Gus

11 comentários:

Taj Mahal disse...

Eita, Gus! Mais uma vez seu texto tá um primor! Caralho...Mano, é real isso aí mesmo...no mundo q a gente vive hj, o segredo é ver o que sobrou de bom dentro dessa lata de lixo que vivemos!

Parabéns..sou teu fã!
abraços

Franca

Anônimo disse...

Aprendeu, ô batalhador diário?

Thiago Fagnani disse...

Simlesmente um luxo......
Como sempre, sua ironia com ares de cultura e boa gramática engrandecem o nosso humilde e gentil blog...
vamos continuar nessa nossa BATALHA DIÁRIA!!!

BEIJOS

Anônimo disse...

Kamaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaada!!!

Esse texto tá muito bom mesmo, e engraçado é claro!

Fiquei com medo de ser a vítima 7001!!
AHAHAHAHAHAAHAHAH

BEIJO MEU AMIGO

Carlos Eduardo disse...

Boa, Gus!!

Quando eu morava no Rio e vinha de vez em quando pra cá visitar família e namorada, não tinha uma vez sequer que eu voltasse pra lá ileso. Sempre retornava com tosse, ligeira falta de ar e ranho (hauhauhau desculpe o termo porco). É o q vc falou.. se isso se desenvolver em uma espécie de alergia, aí o bicho vai pegar.

Sobre as senhoras dóceis e gentis nos ônibus, é bem verdade o q vc disse.. as tiazinhas se transformam pra sentar a bunda em algum banco. hahaahahauha

É isso ae Gus!! Aquele abraço!!

Ps: "chutei pneus, vasos e tudo mais que continha água parada." hahahahha

Alfredo Araújo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Alfredo Araújo disse...

Mas vc é bom em muleque? Muito bons seus textos Gus. Quanto à poluição, eu sou viciado, tenho crises de abstinência quando não vejo aquela massa preta abastecendo meus pulmões...

As dóceis senhoras nem se oferecem para segurar minha mochila quando venho em pé no busão... tá louco viu...

FLWS

Ju disse...

Gus, perfeito!!!!!
Mas te digo uma coisinha: o valor de São João é o marasmo msm.... acho que vc vai ter que continuar por aqui, na correria!!!! Mas juro que não te abandono... apesar dos pesares, eu gosto disso aqui também!!!!!

Bjinho

Anônimo disse...

olha cara pálida, vou te falar q concordo contigo... São Paulo é uma merda, mas vou te contar uma coisa:
Como todos sabem eu virei caiçara, ando de bike o dia inteiro, tomo água de coco, vejo mulheres de biquini e levo uma vida saudável, sem fumar e sem beber. Mas nesse feriado eu fui pra uma cidade chamada Casa Branca, perto de S. João da Boa Vista. No terceiro dia, eu vi um trator passando em frente a casa q eu tava e corri pra colocar a boca no escapamento e tragar fumaça, muita saudade da poluição de São Paulo. Resumindo: marretei minha bicicleta, bebi uma caixa de cerveja e fumei um maço de cigarro. Ou seja, estou em são paulo de novo fumando e bebendo com antigamente. Mas é só por uma semana...

WickedHands disse...

Cara, gostei tanto do seu blog que o adicionei como um "link útil" no meu blog....

Matérias interessantes com um ponto de vista real de quem está vivendo nesta selva a qual chamamos de casa!

Parabéns.

Abraço!

Clarisse disse...

Meu Deus! Conseguiu resumir em muitas palavras oq td mundo sente qnd sai de SP e quer voltar.
Paguei um pau viu Gus... q texto magnífico!! Tbm sou sua fã.
Bjaoo